segunda-feira, 22 de julho de 2013

Ronald Augusto à queima-roupa



Lancei o meu primeiro romance Le mot juste (Orobó Edições) em 2011.

Enviei exemplares do livro para algumas pessoas do métier, para que escrevessem uma breve resenha sobre a obra. Uma delas foi Régis Bonvicino, que me indicou uma outra para o trabalho, o, hoje, grande camarada, Ronald Augusto.

Pouco tempo após o envio do miolo do livro via e-mail, eis que o Ronald já retorna com uma instigante e provocadora resenha, “A multiplicação de textos de Le mot juste”, publicada posteriormente em seu excelente Decupagens assim (Letras Contemporâneas, 2012).

Desde então, temos mantido um excelente diálogo literário.

Ronald é poeta, crítico, compositor e cantor, daqueles que não douram a pílula, que não capitulam diante da torrente formada pela opinião geral sobre assuntos literários e afins.

Veja-se, por exemplo, a sua iconoclastia acerca de como vê a questão das premiações e dos concursos literários, Premiações e concursos literários com o aval e o suporte financeiro de grandes empresas capazes de desempenhar as tarefas estupidificantes que o conivente sistema literário exige deles. O que permanece informe no espírito dos escritores acerca deste estado de coisas é produto da forma por meio da qual se estruturam os embates e acordos socioculturais.

Enviei-lhe, então, algumas questõezinhas que, embora, recorrentes, nunca perdem seu pendor capcioso quando lançadas à queima-roupa. Veja-se o que o Ronaldo disse sobre cada uma delas.

Erre: Ronald, que aspectos você julga que devam ser considerados sobre o ato de ler?

Ronald: Duas coisas sobre essa questão: (1) ler é mais importante do que escrever; e (2) reler, do ponto de vista do escritor, é mais importante do que ler. Borges é o grande exemplo dessa meia tese, isso porque o dom da cegueira progressiva contribuiu para que ele se dedicasse mais à releitura, espécie de rememoração, do que à leitura (que supõe o agora e o cumulativo). Se o prazer da leitura se extinguirá, melhor reter na memória imaginativa, por via da releitura, o que foi feito de melhor.

Erre: E, por sua vez, o que você tem a dizer sobre o ato de escrever?

Ronald: Subproduto da releitura. Repetir os mestres para aprender.

Erre: Agora, uma questão mais complexa, o que significa, para você, ser lido?

Ronald: Efetivar esse singular ato da comunicação poética. Reconhecer a vontade ou o desejo de linguagem do leitor. Admitir que as interpretações resultantes desse desejo são infinitamente mais importantes do que as que o escritor talvez tenha idealizado para o seu  próprio texto. 

Erre: Vamos complicar mais o negócio, fale um pouco sobre um de seus principais ofícios com a escrita, o da crítica, o que é isso?

Ronald: Fazer inimigos. Dar prosseguimento à tradição, mas de maneira a colaborar com sua renovação.

Erre: E, por fim, como funciona o lance de ser criticado?

Ronald: É como ser lido, a mesma coisa; trata-se de um modo mais focado de ler. Mas, no sentido de receber uma crítica desfavorável, devo dizer que ainda não sei o que significa isto. Não estou sendo arrogante. Até agora, quando alguém me critica, isso tem a ver com minha atividade crítica; os autores reagem defensivamente e com certa revolta, como se eu fosse um traidor da irmandade. Fazer crítica apontando problemas se limita, hoje em dia, com o gesto reativo do sujeito que ficou com o orgulho ferido. Esse escritor medíocre faz beicinho e sai da sala para chamar a atenção.



Ronald Augusto. Poeta, músico, e crítico de poesia. É autor de, entre outros, Homem ao Rubro (1983), Puya (1987), Kânhamo (1987), Vá de Valha (1992),Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Decupagens Assim (2012) e Oliveira Silveira: Poesia Reunida (2012). Despacha no blog www.poesia-pau.blogspot.com e é diretor-associado do website www.sibila.com.br





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