Lancei o meu primeiro romance Le mot juste
(Orobó Edições) em 2011.
Enviei exemplares do livro para algumas pessoas
do métier, para que escrevessem uma breve resenha sobre a obra. Uma delas
foi Régis Bonvicino, que me indicou uma outra para o trabalho, o, hoje, grande
camarada, Ronald Augusto.
Pouco tempo após o envio do miolo do livro via
e-mail, eis que o Ronald já retorna com uma instigante e provocadora resenha, “A multiplicação de textos de Le mot juste”,
publicada posteriormente em seu excelente Decupagens assim (Letras
Contemporâneas, 2012).
Desde então, temos mantido um excelente diálogo
literário.
Ronald é poeta, crítico, compositor e cantor,
daqueles que não douram a pílula, que não capitulam diante da torrente formada
pela opinião geral sobre assuntos literários e afins.
Veja-se, por exemplo, a sua iconoclastia acerca
de como vê a questão das premiações e dos concursos literários, Premiações e
concursos literários com o aval e o suporte financeiro de grandes empresas
capazes de desempenhar as tarefas estupidificantes que o conivente sistema
literário exige deles. O que permanece informe no espírito dos escritores
acerca deste estado de coisas é produto da forma por meio da qual se estruturam
os embates e acordos socioculturais.
Enviei-lhe, então, algumas questõezinhas que,
embora, recorrentes, nunca perdem seu pendor capcioso quando lançadas à
queima-roupa. Veja-se o que o Ronaldo disse sobre cada uma delas.
Erre: Ronald, que aspectos você julga que devam ser
considerados sobre o ato de ler?
Ronald: Duas coisas sobre essa questão: (1) ler é
mais importante do que escrever; e (2) reler, do ponto de vista do escritor, é
mais importante do que ler. Borges é o grande exemplo dessa meia tese, isso
porque o dom da cegueira progressiva contribuiu para que ele se dedicasse mais
à releitura, espécie de rememoração, do que à leitura (que supõe o agora e o
cumulativo). Se o prazer da leitura se extinguirá, melhor reter na memória
imaginativa, por via da releitura, o que foi feito de melhor.
Erre: E, por sua vez, o que você tem a dizer sobre
o ato de escrever?
Ronald: Subproduto da releitura. Repetir os
mestres para aprender.
Erre: Agora, uma questão mais complexa, o que
significa, para você, ser lido?
Ronald: Efetivar esse singular ato da
comunicação poética. Reconhecer a vontade ou o desejo de linguagem do leitor. Admitir
que as interpretações resultantes desse desejo são infinitamente mais
importantes do que as que o escritor talvez tenha idealizado para o seu
próprio texto.
Erre: Vamos complicar mais o negócio, fale um pouco
sobre um de seus principais ofícios com a escrita, o da crítica, o que é
isso?
Ronald: Fazer inimigos. Dar prosseguimento à
tradição, mas de maneira a colaborar com sua renovação.
Erre: E, por fim, como funciona o lance de ser
criticado?
Ronald: É como ser lido, a mesma coisa;
trata-se de um modo mais focado de ler. Mas, no sentido de receber uma crítica
desfavorável, devo dizer que ainda não sei o que significa isto. Não estou
sendo arrogante. Até agora, quando alguém me critica, isso tem a ver com minha
atividade crítica; os autores reagem defensivamente e com certa revolta, como
se eu fosse um traidor da irmandade. Fazer crítica apontando problemas se
limita, hoje em dia, com o gesto reativo do sujeito que ficou com o orgulho
ferido. Esse escritor medíocre faz beicinho e sai da sala para chamar a
atenção.
Ronald Augusto. Poeta, músico, e crítico de poesia. É autor de,
entre outros, Homem ao Rubro (1983), Puya (1987), Kânhamo (1987), Vá de Valha
(1992),Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas
(2012), Decupagens Assim (2012) e Oliveira Silveira: Poesia Reunida (2012).
Despacha no blog www.poesia-pau.blogspot.com e é
diretor-associado do website www.sibila.com.br
[Imagem:
sociedadedospoetasamigos.blogspot.com]
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